Há coisa que
deveria ser básica e óbvia para todo mundo que acha que misturar política e
religião é errado, e que a ideia é fácil de ser discernida ao ponto de excretar
qualquer palavrório imediato e irrefletido, "aprendido" sabe-se lá
onde:
Primeiramente, religião é uma prática, derivada de uma mente, e tem a ver com a moral, ética e cultura -- de um povo --, e a igreja, uma instituição, ainda que seja algo relacionado a esta mente, acarreta diferenças de exame e maior complexidade, tocando no ponto da articulação social de instituições e sua(s) função(ões) na ação.
E um dogma
tem a ver com a ideia de revelação sobrenatural, está relacionada a
mandamentos, pecados, vida eterna, essas coisas. Tratando-se de algo que pode
ser questionado no sentido negativo -- cético e desconstrutor. Aquilo é o que
é, e não pode ser diferente por questão de gosto. A única possibilidade é
entender como e por que é o que é, e aceitar ou não.
Se algo que
é expressado por um dogma, ou alguma ideia bíblica, é na prática, concreta e
logicamente, melhor que seu contrário, qual é a relevância da ideia de dogma,
para dizer que um candidato que usa o título "pastor" e defende
coisas defendidas mais por cristãos está impondo DOGMAS, e principalmente
IMPONDO?
Quem diz que
uma pessoa que COMPROVA a melhor qualidade de seus pensamentos e propostas, de
natureza cristã ou não, é alguém que está IMPONDO algo, nada mais está fazendo
do que se projetar no adversário, sendo ele mesmo um defensor -- velado -- da
imposição, visto que se trata de uma guerra de visões, não de luta pela
verdade. E o uso das palavras denuncia a mentalidade do projetante.
Se eu digo
que 1+1=2, ou que armas de fogo não devem ser proibidas, ou ainda que sexo só
com fins reprodutivos e matrimoniais é melhor por n razões,
incluindo a prevenção 100% da AIDS (coisa que preservativos não
fazem), havendo provas das três asserções, qual é a inteligência de dizer
que uma verdade está sendo imposta, enquanto verdade mesmo? Se todo homem
deseja a verdade, quem reclama de imposição só pode preferir a mentira.
O que leva a
outro tipo de figura: o cristão que opõe cristianismo à ação política.
É o sujeito que cede lugar ao pecado num dos campos em que ele mais
deveria ser contido, por engolir sociedades inteiras, do campo moral ao do
poder, inclusive no aspecto econômico. E a intenção do cristianismo, por
definição, não é combater o pecado?
O pecado está em todo lugar menos na ação política? Em países onde há a
intenção de comunismo, o fato de ser um cristão e pregar já é considerado um
ato político -- e burguês, devendo ser erradicado. Que tal dar liberdade e
amor, do evangelho, que o cristão antipolítica adora pregar, para Mao Zedong
(além de outros, como Adolf Hitler, Fidel Castro, Kim Jong Un, Nicolae Ceaucescu,
e a lista não termina tão logo) assassinar milhões de pessoas em nome da
revolução?
Que
evangelho é este que colabora para a revolução se instalar e, como uma
sepultura, engolir toda a sociedade, inclusive não cristãos, sem ocasionar
transgressão aos dois maiores mandamentos, e a negação do mundo concreto, obra
de Deus, que foi deixado aos cuidados do homem, em prol de algum ascetismo
estranho?
É quase
engraçado. Quase. Porque é bizarro.
Cristãos são
cidadãos de segunda classe em virtude de serem cristãos?